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Queda no diagnóstico de hepatites virais pode aumentar casos de cirrose e câncer de fígado

Especialistas relatam preocupação com um possível aumento das chamadas "mortes silenciosas", já que ...

GABRIELA BONIN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A campanha "Julho Amarelo" dedica o mês para ações de enfrentamento das hepatites virais. Entre 2019 e 2020, houve uma queda de 48% no número de pessoas tratadas com hepatite C, segundo dados divulgados pelo Ibrafig (Instituto Brasileiro do Fígado). Especialistas relatam preocupação com um possível aumento das chamadas "mortes silenciosas", já que as hepatites podem não apresentar sintomas e evoluir para casos de cirrose e câncer de fígado.


"Houve uma redução de mais de 40% nas testagens para as hepatites virais durante a pandemia, porque muitos pontos de testagem foram desarticulados e a população parou de procurar os postos de saúde com receio de contrair a Covid-19", explica Paulo Bittencourt, gastroenterologista e presidente do Ibrafig.


As hepatites virais são infecções que atingem o fígado e podem ser causada por diferentes vírus, classificados pelas letras do alfabeto A, B, C, D (delta), e E.


No Brasil, as mais comuns são as hepatites A, B e C, sendo que, juntos, os tipos B e C respondem por cerca de 74% dos casos notificados de hepatites virais no país, de acordo com o boletim epidemiológico de 2020 do Ministério da Saúde.


"A hepatite A é responsável por algumas causas de hepatite aguda, na maioria das vezes, sem maior gravidade e de resolução espontânea. Atualmente, é uma hepatite que pode ser prevenível por vacinação que está disponível no Programa Nacional de Imunização", diz o presidente do Ibrafig.


As doenças do tipo B e C, todavia, costumam evoluir para quadros crônicos e trazer complicações que podem levar o paciente a óbito.
"As doenças crônicas do fígado não tratadas têm chance de evoluir para uma fibrose hepática, que, quando avançada, é uma cirrose. Os pacientes com cirrose têm um risco muito maior que a população em geral de ter câncer de fígado", esclarece Isaac Altikes, gastroenterologista do Hospital Santa Catarina.


Segundo os médicos, as infecções de hepatite B e C são marcadas por uma evolução silenciosa, ou seja, sinais e sintomas são raros. Quando presentes, são sinais genéricos comuns a outras doenças como febre, enjoo, vômitos, tontura e mal-estar.


"Algumas vezes, há icterícia [pele e olhos amarelados], o que chama a atenção do paciente e do médico para fazer o diagnóstico correto", complementa Altikes.


Dentre as principais formas de transmissão das hepatites virais, estão o compartilhamento de objetos perfurocortantes ou de higiene pessoal; a realização de procedimentos fora das normas sanitárias, como tatuagens, piercings, manicure e pedicure; relações sexuais sem o uso de preservativo, entre outros.


No caso da hepatite A, falta de saneamento básico e higiene é um fator causal importante, já que uma das formas de transmissão é fecal-oral, pelo contato de fezes com a boca.


SUS OFERECE TESTAGEM E TRATAMENTO
No Brasil, as hepatites B e C têm seu diagnóstico e tratamento coberto pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O tratamento do tipo B é feito com medicamentos que evitam a progressão da doença, enquanto a hepatite C conta com um tratamento de cerca de três meses que tem taxas de cura de mais de 95%, segundo dados do Ministério da Saúde.
Não há vacina para o tipo C, somente para o B. A imunização da rede pública teve sua cobertura ampliada em 2016. Desde então, as três doses contra a hepatite B são gratuitas para todos os brasileiros, independentemente de faixa etária no calendário vacinal.


A testagem para hepatite B e C é oferecida gratuitamente na rede pública. A recomendação é que o teste seja feito em maiores de 20 anos que não tomaram a vacina do tipo B, maiores de 40 anos em geral, usuários de drogas injetáveis, pessoas que fizeram piercings e tatuagens, que têm múltiplos parceiros sexuais ou que consomem álcool em excesso.


"Existe o teste rápido das hepatites feito através da punção [retirada de sangue] do dedo que faz o diagnóstico rapidamente e encaminha o paciente para um serviço especializado quando positivo", explica Isaac Altikes, gastroenterologista do Hospital Santa Catarina.


O Ibrafig (Instituto Brasileiro do Fígado) criou um canal de comunicação para orientar a população sobre locais de testagem e tratamento pelo SUS. Para falar com um atendente, basta uma ligação de telefone para o número 0800 882 8222.Saiba mais | Hepatites viraisO que são?


São infecções que atingem o fígado e podem ser causadas por diferentes vírus (A, B, C, D e E).
No Brasil, as mais comuns são as hepatites causadas pelos vírus A, B e C.Diferenciação entre os tipos da doença:Hepatite A:
Infecção aguda, sem risco de evolução para quadros crônicos
Na maioria das vezes, tem caráter benigno
Tem vacina disponível no SUS para menores de 5 anos de idade
Não há tratamento padrão, são usados medicamentos específicos para cada casoHepatite B:
Infecção que frequentemente se torna crônica
Cerca de 20% a 30% dos adultos crônicos desenvolvem cirrose e/ou câncer de fígado
Tem vacina universal disponível no SUS
Tratamento está disponível no SUS e impede a progressão da doençaHepatite C:
Infecção comumente na forma crônica
Costuma progredir para cirrose e/ou câncer de fígado
Responsável por mais de 76% das mortes das hepatites virais entre 2000 e 2018
Não há vacina
Tratamento está disponível no SUS e tem taxas de cura de mais de 95%As hepatites D e E são menos comuns no Brasil.
O tipo D pode ser encontrado na região Norte, enquanto o E é mais encontrado na África e Ásia.Principais formas de transmissão:
Compartilhamento de objetos perfurocortantes (seringas, agulhas, alicates, tesoura de unha)
Compartilhamento de objetos de higiene pessoal (escova de dente, lâmina de barbear)
Relações sexuais sem preservativo
Procedimentos de tatuagem, piercing ou cirúrgicos que não seguem normas sanitárias
Falta de higiene e saneamento básico (hepatite A)Sintomas das hepatites virais:Importante: são infecções silenciosas, os quadros costumam não apresentar sintomas.
Possíveis sintomas genéricos:
cansaço,
febre,
mal-estar,
tontura,
enjoo e vômitos,
dor abdominal,
pele e olhos amarelados,
urina escura e fezes clarasDiagnóstico:Como funciona o teste rápido para hepatite B e C:
Gratuito no SUS
Coleta de sangue da ponta do dedo do paciente
Resultados em cerca de 15 minutosQuem deve buscar o teste:
Maiores de 20 anos que não foram vacinados para hepatite B
Maiores de 40 anos no geral
Pessoas que receberam transfusões de sangue ou transplantes de órgãos antes de 1993
Usuários de drogas injetáveis ou que compartilham agulhas injetáveis
Pessoas que fizeram tatuagens ou piercings sem o devido cuidado sanitário
Pessoas com múltiplos parceiros sexuais, ou com múltiplas doenças sexualmente transmissíveis
Pessoas com elevado consumo de álcool (acima de duas doses por dia para homens e uma dose para mulheres)Fontes: Ministério da Saúde; Ibrafig (Instituto Brasileiro do Fígado), SBH (Sociedade Brasileira de Hepatologia); Dr. Isaac Altikes, gastroenterologista do Hospital Santa Catarina, Dr. Paulo Bittencourt, gastroenterologista e presidente do Ibrafig.

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